A recorrência dos casos que envolvem menores de 18 anos é um dos fatores que alimenta a sensação de insegurança. Nas ruas, a própria PM demonstra desânimo ao ver a reincidência dos infratores. “Praticamente toda semana eu pego esse menino roubando. Tem horas que dá vontade de desistir”, disse à reportagem um militar segurando pelo braço um adolescente, que chegava à Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA).
O garoto diz que foi abandonado pelos pais, só estudou até a segunda série e fugiu da casa da avó aos 12 anos. Depois disso, viveu na rua e passou a morar em um barraco de tábua sob a tutela de um traficante. Hoje, aos 16 anos, diz que está “a serviço dele para o que precisar”. “Se mandar roubar, eu roubo. Só não mato porque ele não manda, nem deixa”, contou.
O adolescente revela que não tem medo de morrer e que já viu o bastante da vida, em seus 16 anos. “Já vi ‘chegado’ meu morrendo em meus braços. A pessoa que mais amei foi minha avó e morreu também. Não tenho mais nada a perder. Não tem gente que nasce para ser médico? Pois então, tem gente que nasce para o crime e eu nasci”.
O cabo da PM disse que fica triste com a realidade das ruas. “Dá uma tristeza misturada com medo. O que esse menino precisa nem a Polícia, nem a Justiça, nem a escola, nem ninguém pode dar. Ele já viveu coisa demais e decidiu o que vai ser”. A ressocialização precisa acontecer antes deles decidirem”.
SSPDS
O coronel Lauro Carlos de Araújo Prado, secretário adjunto da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), disse que a Pasta tem trabalhado muito para que os adolescentes se envolvam menos com crimes. “Infelizmente, as crianças estão entrando cada vez mais cedo no mundo no crime. Procuramos, de maneira geral, retirá-los dessas práticas. Temos programas como o Jovem Bombeiro Voluntário, Cavaleiros do Futuro da PM, Combate às Drogas da Polícia Civil para ocupá-los, mostrá-los possibilidades de uma vida diferente, mas precisamos da integração de outros setores, porque não podemos resolver esse problema sozinhos. Por isto foi criado o pacto pelo ‘Ceará Pacifico'”.
A estabilização do Sistema Socioeducativo é um dos pontos que contribuíram para a redução no número de infratores, para o coronel. “Com o sistema funcionando melhor há menos fugas, menos rebeliões. Foi criada uma Superintendência para tratar disto e a tendência é que funcione cada vez melhor”.
Segundo Lauro Prado, a impressão de que as medidas socioeducativas são brandas potencializa a sensação de impunidade na sociedade. “As pessoas não acreditam que os crimes sejam punidos e isso precisa mudar. A Polícia tem trabalhado muito, de forma preventiva e repressiva, quando necessário, para garantir a tranquilidade nas ruas. Esses jovens não estão impunes. O ECA é uma Lei boa, moderna. Só é preciso que funcione totalmente”.
Para o secretário adjunto, o ponto fundamental para a ressocialização é que os adolescentes tenham acompanhamento e sejam mantidos longe do crime. “A família, a escola, a igreja, são instituições que podem ajudar a afastar essas crianças do crime. Eles são corrompidos por muito pouco por criminosos, que lhes oferecem vantagens. Eles precisam acreditar em uma vida diferente de trabalho e estudo, longe de coisas erradas”
Fonte: Diário do Nordeste