“Ele não reagiu. Fez sua função. Polícia é polícia 24 horas por dia. Não existe folga de PM”, diz Érica dos Santos Morais, 37, mulher do cabo Sérgio Augusto Morais, morto aos 46 anos, no mês passado.
Era uma sexta à noite, às 21h, e ele jantava numa lanchonete no Jardins (região oeste de São Paulo) com um colega. Estava de folga, sem farda. Dois assaltantes anunciaram um assalto. Morais reagiu, e foi atingido com uma bala no peito por um dos criminosos, que fugiram.
Em 2015, 103 policiais morreram em confrontos durante o expediente no Brasil e quase o triplo, 290, foram mortos fora do serviço. A soma dos números mostra que, em média, um policial foi morto por dia no ano passado.
Para Érica, é covardia “pegar policial de folga e não fardado”. “Ele foi um policial. Morreu na função.”
Eles se casaram quando ela tinha 16 anos. Moradores de Guarulhos (Grande SP), se conheceram num churrasco de amigos. Juntos, tiveram três filhos –de 18, 16 e 10 anos.
“Por causa da violência, nossos filhos ficaram sem pai. Nada vai pagar a vida dele”, diz ela. “Não pode ser que a média seja um policial morto por dia. Morrem mais. Quando fui dar entrada na minha pensão, havia mais 12 mulheres de policiais mortos ali.”
Como “mulher de militar”, afirma Érica, ela sempre teve medo “de que ele não voltasse para casa”. “Agora me sinto podre, quase sem sobrevivência”, diz, lembrando dos 22 anos que viveram juntos -“ele não se negava a ajudar ninguém. Não existia a palavra ‘não’ para ele”.
“Mulher de polícia não tem paz. Filho de polícia não tem paz. Mulher e filho de polícia são mulher e filho de polícia 24 horas por dia. Agora esperamos a Justiça.” (JG)
Fonte: Folha de São Paulo