Conflitos em três presídios da Região Metropolitana de Fortaleza seriam a confirmação da quebra do acordo de paz selado entre Comando Vermelho (CV) e Primeiro Comando da Capital (PCC).
Detentos e familiares de presos fizeram relatos ao ao defensor público Emerson Castelo Branco, que esteve na Casa de Privação Provisória de Liberdade Professor Jucá Neto (CPPL III), em Itaitinga, em visita de rotina.
A Secretaria da Justiça e Cidadania (Sejus) confirmou “ocorrências de insubordinação de internos”, na madrugada de ontem, nas casas de Privação Provisória de Liberdade III e IV e na Penitenciária Francisco Hélio Viana, em Pacatuba.
Conforme a secretaria, a situação teria sido controlada pelos agentes penitenciários sem que ninguém tivesse saído ferido.
O POVO apurou que, no conflito de Pacatuba, teriam sido registrados disparos de armas de fogo entre os próprios detentos. A Sejus não confirmou a informação, mas disse que foram realizadas vistorias na manhã de ontem e apreendidos 46 telefones celulares. Nenhuma arma foi encontrada.
De acordo com o defensor público, o clima é de tensão nas unidades penitenciárias cearenses. Na segunda-feira, 17, detentos estariam pressionando por transferência para outras unidades, diante do temor de conflito se instaurar entre as grandes facções criminosas. Devido à situação, os atendimentos da Defensoria Pública na CPPL III chegaram a ser suspensos.
O defensor disse que a Sejus estaria analisando, ontem, a possibilidade de remanejar presos, para separar membros de organizações rivais. A assessoria da pasta informou que apura se há necessidade de transferências.
O defensor informou ainda que, segundo familiares de internos, os presos vêm sendo obrigados a escolher uma facção para fazer parte. “Se não escolher, sofre represálias. Ameaçam a própria família do preso. Lá dentro, eles não querem que os detentos fiquem, digamos, neutros”, narrou.
PCC x CV
A quebra do pacto entre o PCC e o CV é apontada em outros estados. Em São Paulo, o secretário da Administração Penitenciária afirmou que o clima de harmonia entre as facções acabou. Portais de notícias estrangeiros, como “El País” e “BBC”, informavam ontem que as tréguas entre grandes grupos criminosos no Brasil teria chegado ao fim. A consequência seriam as rebeliões se espalhando por vários estados. Os casos mais graves são registrados em Roraima e Rondônia, onde o número de detentos mortos pode ser superior a 20.
No Ceará, a Sejus respondeu, por meio de nota, que investiga as razões dos conflitos e possíveis interferências na convivência
entre os presos.
“SE O NÃO ESCOLHER UMA FACÇÃO, SOFRE REPRESÁLIAS. AMEAÇAM A PRÓPRIA FAMÍLIA DO PRESO”
O DEFENSOR INFORMOU AINDA QUE OS PRESOS VÊM SENDO OBRIGADOS A ESCOLHER UMA FACÇÃO
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Rebeliões
O Ministério Público do Estado, em relatório sobre a série de rebeliões ocorrida em maio, identificou presença de três facções criminosas em presídios do Ceará: PCC, CV e Guardiões do Estado (GDE).
Na ocasião, o relatório concluiu que a Sejus havia se omitido por não impor disciplina e deixar que os detentos ficassem soltos nas vivências das casas de privação. O Sindicato dos Agentes Penitenciários também foi responsabilizado pelas rebeliões, diante da greve deflagrada em maio, quando visitantes foram impedidos de entrar.
Segundo a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), houve 41 mortes em presídios do Ceará entre janeiro a setembro deste ano.
Fonte: O Povo