Basta uma passada rápida pelos corredores do Instituto Doutor José Frota (IJF) para verificar policiais militares, ao lado de macas, fazendo a escolta de presos com ferimentos à bala ou outras enfermidades. Em média, são de 50 a 60 PMs todos os dias na unidade de saúde. Praças e oficiais ouvidos pela reportagem disseram que a situação prejudica o policiamento ostensivo, pois tira um número considerável de policiais das ruas, onde eles poderiam evitar crimes.
Na última quinta-feira (1), o IJF estava com 13 presos espalhados pelos cinco andares do hospital. A média, conforme o coronel Hélio Martins, responsável pela segurança da unidade, é de 10 a 20 pessoas detidas. Para cada paciente preso, dois policiais de dia e dois de noite.
“Já chegou a ter 25, 26 (presos), com mais de 100 PMs aqui ao invés de estarem na rua”, revelou um policial que estava de serviço no IJF, mas que pediu para não ter o nome publicado. O número é quase a metade do efetivo de uma companhia que, em média, possui 250 homens.
O responsável pela segurança do IJF disse que a escolta é necessária, pois o preso não tem como ficar sem a presença da Polícia, sob risco de fuga ou resgate. Martins disse que além dos PMs na escolta, o IJF conta com uma equipe de policiais militares, guardas municipais e seguranças terceirizados.
O número não foi revelado pelo oficial por questões estratégicas e de segurança. “Aqui é seguro, posso garantir isso. Em mais de 20 anos que trabalho aqui, só presenciei uma fuga e o preso foi recapturado”, ressaltou o coronel.
No entanto, acompanhantes de outros doentes e funcionários do hospital ouvidos pela reportagem revelaram temor de estar ao lado de alguém acusado de crimes. Uma mulher de 34 anos (identidade preservada) disse que ao lado do parente dela tinha um preso algemado e isso causa “desconforto”, além do medo. “Perguntei logo ao policial qual foi o crime que ele cometeu”, disse a acompanhante.
Um técnico em enfermagem afirmou que colegas dele já foram ameaçados por presos. Existe ainda o temor de que algum inimigo da pessoa detida invada o hospital para matar o doente preso, como casos que ocorreram no Instituto Doutor José Frota nos anos de 2013 e 2014.
Indagado sobre a possibilidade de criação de uma companhia nesses moldes, o relações públicas da Polícia Militar do Ceará (PMCE), tenente-coronel Jesus Andrade Mendonça, foi taxativo: “Não existe estudo porque isso (escolta) não é uma atribuição da PM. Não é constitucionalmente nosso papel. Em alguns casos ainda mantemos, mas o pensamento do atual comandante é acabar com as escoltas feitas por PMs”.
Conforme Andrade Mendonça, a atribuição de cuidar de presos é da Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejus). Sobre o efetivo que está nas escoltas em hospitais, o oficial afirmou que “obviamente seriam mais policiais nas ruas, mas isso não prejudica o andamento do Sistema de Segurança como um todo”, destacou.
Por meio de nota, a assessoria de comunicação da Secretaria de Justiça informou que “a escolta e custódia de presos do sistema penitenciário em estabelecimentos de saúde é realizada por agentes penitenciários. A Sejus ressalta que os agentes somente podem atuar nos casos em que os pacientes já deram entrada no sistema penitenciário”.
A Associação dos Cabos e Soldados Militares do Ceará, acredita que essa não seja função da policia militar, inclusive denúncias já foram feitas ao Ministério Público para que resolvesse essa situação, mas o governo não tomou nenhum posicionamento em relação ao assunto.
Fonte: Diário do Nordeste