Gostaria de começar este texto com resultados da lei que torna assassinatos de policiais crimes hediondos, mas não posso. Porque, pelo menos no Ceará, nós temos o maior número de mortes desses profissionais em dez anos. No feriado da Proclamação da República, chegou a 30 o número de agentes da Segurança Pública mortos neste ano no Estado. Um número alarmante que mostra uma guerra silenciosa, com quase três vítimas por mês. Desses profissionais, 80% são policiais militares. A corporação é a que mais morre no Estado. Em 2016, dos 24 PMs mortos, pelo menos sete estavam de serviço.
A Polícia Civil representa 10% desses casos, seguida dos agentes penitenciários, com 6,6%, e dos policiais rodoviários federais, com 3,3%. Esse dado reflete a situação que os militares do Ceará estão vivendo: a rotina do PM, atualmente, se resume a esconder a própria função, seja no trajeto até batalhão com a farda na mochila, se distanciando de redes sociais, evitando locais públicos com aglomerações e custeando a própria proteção, com a compra de carros blindados. Outro problema, denunciado pelos próprios militares, é que traficantes manipulariam parte da comunidade por meio de ameaças para que busquem a Controladoria Geral de Disciplina (CGD). O objetivo seria denunciar os PMs e deixá-los acuados e longe dos pontos de droga. Não se vê preocupação dos órgãos competentes em entender o porquê de tantos agentes mortos, ou de designar uma investigação para crimes contra profissionais da Segurança. Apenas o silêncio.
A morte de um policial não representa apenas uma estatística, mas a desestruturação de famílias e de uma corporação. Ao ver colegas de trabalho sendo mortos todos os dias, o restante da tropa fica desestimulado. A pressão dos familiares também aumenta, pois o medo de não ver o ente querido voltando para casa após um dia de serviço é evidente. Filhos crescem órfãos de pai (não há registro de crimes contra policiais femininas). Um agente com um ano de serviço já tem atendido centenas de ocorrências e impedido uma dezena de crimes. Seja quando apreende uma arma, o que impede o criminoso de cometer um roubo, seja na própria prisão. A morte do agente da segurança pública implica o avanço da violência, pois é menos um para combater o crime.
Jéssika Sisnando
jessikasisnando@opovo.com.br
Jornalista do O POVO